Vol. 10 do Bunko de Stardust Crusaders (10/2002)
O posfácio de Hirohiko Araki, escrito no último volume da versão Bunkoban de Stardust Crusaders.
Entrevista
À Ryosuke Kabashima, Editor-Chefe da Weekly Shonen Jump: Eu nunca poderia te agradecer o suficiente, mas...Eu gostaria de tomar essa oportunidade para expressar minha gratidão. Cada uma de suas palavras me deu coragem. JoJo's Bizarre Adventure nunca teria existido sem você.
Quando eu era pequeno eu muitas vezes brigava com minhas irmãs mais novas, elas são gêmeas, e sempre que eu estava discutindo com uma delas a outra, cedo ou mais tarde, começava a chorar. "Por que você está chorando!?", eu sempre perguntava, com raiva, mas no final sempre era eu quem se encrencava e era xingado por algum motivo.
Essa estratégia era na verdade apenas o resultado do trabalho em equipe das minhas irmãs e elas o usavam para criar uma situação onde, não importa o que eu dissesse aos meus pais para justificar minha ação, a culpa era minha de qualquer jeito. Eu juro que sempre fico em lágrimas quando ouço nas notícias a história de alguém que foi preso por um crime que não cometeu! Eu estava sempre rezando para que essas pirralhas desaparecessem; chegou ao ponto em que eu tinha certeza de que eu tinha uma maldição que fazia com que as pessoas não me compreendessem. Acontecia na escola também; sempre que algo ruim acontecia, os professores sempre me puseram na "lista dos suspeitos" e isso me levou a pensar que talvez era por causa de como eu normalmente me comportava!
Porém, quando a segunda parte de JoJo's Bizarre Adventure estava sendo serializada na revista Weekly Shonen Jump magazine em 1988, eu estava desesperado para encontrar uma ideia original (Eu admito que seja meio estraho para mim, o autor, falar sobre esses tipos de coisas, mas já que isso é um posfácio está tudo bem se lembrar dessas memórias, né?). Eu estava procurando por alguém que não representava força física, mas uma coisa mais espiritual que vinha do coração. Até esse momento, quando o tópico era "super-poderes", era sempre a mesma coisa: os personagens abrem bem seus olhos, o personagem começa a suar, as veias do personagem engrossam, o personagem destrói pedras, etc. Em JoJo, nós temos uma projeção corporeal extra que se manifesta, toma forma, e é essa manifestação que uqebra a pedra, não o personagem... 'Sim, isso pode funcionar! Eu posso representar a força de uma alma dessa forma! Mais do que super-poderes isso é "força espiritual"! É isso, isso é novo! Não outra maneira de transmitir isso!'
Meu gerente me deu permissão e foi com esse conceito que eu comecei a desenhar a parte três, mas...assim que os primeiros capítulos saíram todos os comentários dos leitores foram tipo: "Eu não entendi," ou "o que está acontecendo aqui?"
Eu estava desesperado, foi como aquela parte de mim que estava condenada a ser mal-compreendida estava surgindo novamente. Eu não sabia o que fazer, já que ninguém me entendia. Talvez eu não tivesse explicado bem o suficiente, ou talvez a mudança tenha sido muito repentina, mas como eu do contrário representaria esses tipos de poderes?
Parece que quando eu sai de Sendai pela primeira vez para viver em Tóquio e ser um mangaká, minha avó começou a orar na frente do altar budista que ela tem em casa, toda vez que ela ouvia sobre um homícidio em Tóquio, mãos juntas, ela começava a rezar para que o culpado não fosse eu...Eu realmente não entendo isso. Eu não acho que alguém na minha família tenha me entendido alguma vez e, pior que isso, talvez nem meus leitores conseguiriam!
Naquela época meu gerente me disse que é importante ter fé em si mesmo e desenhar o que você realmente prefere: é isso que significa ser um mangaká! Você precisa de um monte de coragem!
(Até agora eu não acho que aquele gerente tenha me entendido também...Bem, pelo menos mais que minhas irmãs, com certeza.)
[Originalmente traduzido por @macchalion] [Traduzido do inglês para o português por Soxz]