Vol. 1 do Bunko de Vento Aureo (03/2005)
Quarterly S (2005 de Junho)
O posfácio de Hirohiko Araki, escrito no primero vlume da versão Bunkoban de Vento Aureo.
Entrevista
Recentemente, eu consegui me acalmar um pouco... Bem, digamos que em vez de discutir, que é algo que me cansa, eu prefiro obedecer o que me está sendo dito. Durante o tempo em que eu estava escrevendo Vento Aureo, eu realmente me tormentei em relação ao assunto de "auto-censura" nos mangás shonen. Por "auto-censura," eu estou falando sobre os pedidos do comitê editorial para um autor parar de desenhar, ou no mínimo, suavizar certos elementos da história que não foram considerados apresentáveis (por exemplo: frases discriminatórias, expressões que possam parecer racistas, a maneira da qual a cor de pele é desenahda, cenas violentas ou abusos em tanto os fracos quanto animais, referências a crimes reais, a representação de corpos nus, os hábitos de fumar ou beber, etc...). Eu quero esclarecer direto que o que eu estou prestes a escrever aqui não é uma critica dos meus editores, mas simplesmente os sentimentos reais que eu, Hirohiko Araki, senti enquanto escrevendo Vento Aureo.
Tendo chegado a quinta parte da obra, eu desejei escrever uma história que lidaria com tópicos como a tristeza profunda em nós seres humanos, ou a dor de nascer nesse mundo, e eu queria fazer de uma maneira mais forte que nas partes anteriores. Dependendo das circunstâncias em que elas nascem, há pessoas que são sortudas desde o começo, mas como agiriam esses indivíduos se eles houvessem nascido em um lugar diferente, um com condições mais difíceis? Em Vento Aureo, todos protagonistas fora, de uma maneira ou outra, expulsos da sociedade e forçados a viver em seus limites. Estamos falando sobre um ambiente no qual os fortes comem os fracos e um onde o mal permeia por tudo. Em tal situação, ainda é possível para esses personagens encontrarem a justiça?
Quando representando o conflito entre o bem e o mal, é necessário descrever o mal de uma maneira realístico, e é aqui que o poder da "auto-censura" em mangás shonen realmente acerta os golpes mais pesados na história que você está tentando escrever. Fumar, ser inescrupuloso com os fracos, sexualmente molestar um indivíduo, cortar alguém com uma faca, cortar cabeças, abusar homens e mulheres, arrancar olhos fora, comer massa cerebral: todos esses são exemplos de pura maldade. Para expressar as sombras malignas dos seres humanos um mínimo de crueldade e brutalidade é essencial.
Apesar de ter ocorrido esporadicamente nos anos passados, assim que eu comecei Vento Aureo (por volta de 1996), o comitê editorial começou a me mandar mais e mais pedidos ao longo de "conserte essa página", "mude essa frase", "modifique esse desenho" e assim vai. Eu gostaria de mostrar a você precisamente quais diálogos e páginas eu estou falando a respeito, mas seria uma longa lista então é melhor deixar isso de fora por agora. Adicionalmente, esses pedidos eram raramente motivados (mesmo quando foram, eles nunca foram de maneira convincente), as indicações dadas a mim foram tipicamente algo como, "...bem, é só porque há um tipo de regulação, e o prazo de entrega está próximo e as coisas acontecem assim com o comitê. Vai logo e arruma isso! Você vai pensar sobre o resto né?!”
Eu direi novamente, isso absolutamente não é uma crítica em relação aos meus editores,, nem estou insinuando que eles desenvolveram uma atitude não-profissional comigo. (A verdade é que eu sempre fui muito grato aos meus editores!) Tudo que estou tentando dizer é que durante esse período em que eu estava escrevendo Vento Aureo esse sentimento estava lá comigo. Não é nada além de uma simples impressão pessoal.
Com tudo isso tendo sido dito, é fácil imaginar em que tipo de crise eu estava e quão difícil foi para mim expressar corretamente, de forma satisfatória, os temas que eu estava tentando desenvolver. Além disso, eu continuei a me perguntar se por alguma chance uma "parede" havia sido indefinitivamente construída para limitar a liberdade de expressão, se as possibilidades para o desenvolvimento artístico em mangás havia acabado, ou se a ideologia de autoridade e o lucro imparável não estavam completamente se livrando dos brotos da própria arte. Até agora, apesar de estar em uma condição muito mais relaxante, eu ainda não posso dar a mim mesmo uma resposta definitiva, mas o que eu senti naquela época naturalmente transpirou nas ações e atitudes dos meus personagens.
Giorno e Bucciarati, dois dos protagonistas, traem a organização da qual eles fazem parte pela 'justiça'. A organização é um símbolo de poder e obrigação moral, quase um segundo lar para eles, mas eles ambos decidem lutar para seguir o desejo de viver de acordo com a justiça. Até eu, como o autor, enquanto desenhando essas cenas senti a coragem nascendo de dentro de mim. Pensar sobre os sentimentos dos meus protagonistas nunca falha em trazer lágrimas aos meus olhos. Se esses dois meninos decidissem continuar na sombra da autoridade, talvez eles teriam vivido vidas seguras e confortáveis. Em vez disso, mesmo sabendo dos riscos, eles escolheram o caminho da justiça, porque apenas em sua presença eles estavam certos de que suas existências realmente importavam. Vento Aureo, entre a grande moda italiana e todas as mais criativas batalhas de Stand, é uma história cheia de suspense, mas eu também acho, de acordo com meu julgamento como um autor, que ela pode ser uma obra realmente sombria. Tendo dito isso e considerando quantas vezes nós podemos lidar com assuntos pesados, eu estou muito orgulhoso dela. Assim como todas as outras partes, eu espero com todo meu coração que você se divirta lendo ela. Sobre as partes que eu tive que cortar, eu falarei a respeito disso nos posfácios do último volume.
[Originalmente traduzido para o inglês por LegoAlex98] [Traduzido do inglês para o português por Soxz]